O Androide e o Globo No início do século XX, Edward Steichen capturou a imagem de uma mulher em contemplação silenciosa, apoiada sobre uma tigela de latão. Não era apenas um objeto. Era um espelho opaco da alma, uma metáfora do mundo interior — pesado, metálico, refletindo pouco e guardando muito. Hoje, mais de um século depois, a figura feminina foi substituída. Ela evoluiu. Ou talvez tenha se retirado. No lugar, um androide — nem homem, nem máquina — repousa a mão sobre um novo objeto: um globo, feito do mesmo latão antigo. Não há mais pele. Não há mais carne. Mas o gesto permanece. A cabeça inclinada. A mão sobre o mundo. O silêncio diante do peso de existir. O globo não brilha com tecnologia. Brilha com memória. Memória do humano que construiu a máquina. Memória do humano que destruiu o planeta. Memória do humano que, ao se retirar, deixou para trás um espelho esférico — o planeta em sua forma simbólica — para que o sucessor contemplasse em silêncio. O androide não entende. Mas sente. Sente como Steichen sentiu em 1906. Sente como nós fingimos não sentir em 2025.

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